O último filme do realizador alemão Werner Herzog é um documentário em 3 D. E acho que isto chega para deixar curiosos os que já viram algum filme do senhor. A mim, que só vi o Rescue Dawn e o Grizzly Man, deixou. Mas como os filmes em 3 D custam 8,5 euros (6,5 à segunda-feira) é melhor acrescentar qualquer coisa.
A Gruta dos Sonhos Perdidos (Cave of Forgotten Dreams) é uma viagem à gruta Chauvet, no Sudeste da França: uma gruta que esconde um dos mais importantes conjuntos de imagens do Paleolítico. Selada durante milhares de anos, devido a um desmoronamento súbito que tapou a entrada principal, só foi redescoberta em 1994, depois da erosão ter exposto uma pequena entrada. Fosse eu o Werner Herzog e aproveitava já para discorrer acerca dos mistérios da natureza, o que nos mostra e o que nos esconde... mas como não sou, embora o meu sotaque a falar inglês seja igualmente mau, adiante.
Logo que foi descoberta, por espeleólogo amadores, veio o governo francês, que trouxe cientistas, tirou fotografias, anunciou ao mundo, fez um caminho, pôs uma porta blindada e pronto. Só os membros da equipa multidisciplinar que estuda a gruta, ou investigadores por ela convidados, têm agora acesso. O realizador ou teve a sorte de ser convidado ou fez-se convidado e filmou este documentário, que, quanto mais não seja, serve para nos mostrar a três dimensões obras de arte que valem por si mesmas e não apenas por terem sido desenhadas há 30 mil anos por antepassados que só naquela altura começaram a dominar a construção de ferramentas básicas. Claramente não era um problemas de destreza porque as imagens são fantásticas. Das sombras, à perspetiva, passando pela ideia de movimento.
Mas lá para os 15 minutos de filme começo a pensar como é que o realizador vai ocupar os restantes 75. A partir daqui continuem por vossa conta e risco, ou seja, se tencionam ir ver o filme, não continuem. Com entrevistas que se tornam inadvertidamente (?) cómicas: há um ex-artista de circo, um alemão que decide usar a moda da altura e outro que insiste em mostrar como os Cro-Magnom usavam as lanças para caçar cavalos - até ser chamado pelo realizador para parar com aquilo, como um professor que diz já chega a um aluno mais entusiasta mas chatinho. O realizador entrevista cientistas, mas o que procura é uma reflexão filosófica e no meio da narração não resiste a oferecer-nos as dele. Não tenta defendê-las ou explicá-las, vai deixando-as pelo caminho e eu recuso-me a apanhá-las. A maioria, pelo menos. Sobretudo a dos crocodilos albinos.
Não deitemos fora o bebé com a água do banho: as grutas são bonitas. E não vamos ter outra oportunidade para as ver assim. E o que mais irrita no Herzog é que podia ter feito um documentário ainda melhor. O 3 D deixa um bocado a desejar, mas a culpa pode ser do cinema onde vi, a saber, o Monumental.